O lado bom do Minhocão
17/04/12 17:16Nos últimos domingos, o Minhocão tem se transformado em uma sucursal elevada do Baixo Augusta. Modernos, universitários e até alguns mauricinhos estão compartilhando o espaço antes usado quase exclusivamente pelos moradores da sofrida redondeza.
O parque de concreto dominical, usado há anos pelos vizinhos, hoje promove uma mistura de classes em uma cidade aonde os mais abastados costumam pagar muito para não se misturar. No Minhocão, é diferente. Em vez do shopping center, a rua; no lugar do ingresso caro em ambiente fechado, a atividade cultural democratizada e financiada coletivamente, convocada pela internet. Ela é prima direta da ocupação da Praça Roosevelt, da revitalização da rua Augusta e até mesmo da Virada Cultural.
Depois do chamado Festival Baixo Centro, surgem outros encontros, atividades e até maratona para tirar fotos e postar no Instagram. Virou programa paulistano.
Melhor ainda, ela perverte um dos maiores símbolos da prioridade dada ao carro sobre todas as coisas que imperou em São Paulo por várias décadas. Cria do malufismo, o Minhocão rasgou bairros e condenou milhares de moradores ao barulho e à fumaça em suas janelas, em plena sala de visitas. Houve uma fuga da região e os prédios vizinhos passaram por abandono, o que acelerou a crise do Centro. O trânsito, é claro, não melhorou: viadutos como esse apenas deslocam o congestionamento de um lado para o outro. É obra para estimular o transporte individual, não para corredores de ônibus, metrô ou bicicletas.
Tivesse São Paulo uma liderança mais ambiciosa, a demolição do Minhocão já teria acontecido (como em Seul, Boston, Madri, que derrubaram seus elevados). Tanto Seul quanto Madri, que priorizaram o transporte público, colocaram parques no lugar dos elevados. Mas quem acredita que isso possa acontecer em São Paulo em 10 ou 20 anos?
Para não fetichizarmos o Minhocão (não, ele não é um ‘parque’ de verdade, nem uma versão paulistana do High Line nova-iorquino), ele precisa ser adaptado. Viadutos como ele em Xangai ou Pequim têm grandes painéis de proteção lateral para reduzir os efeitos sonoros nos prédios vizinhos; alguns já são cobertos por trepadeiras, o cinza sendo substituído pelo verde. A parte de baixo precisa ganhar novos usos e especialmente melhor iluminação. Vários prédios da região, verdadeira habitação popular, imploram por um retrofit. Belos edifícios projetados por Rino Levi e Artacho Jurado se desmancham de cara ao viaduto.
Mas, como em qualquer programa governamental (veja a paquidérmica reforma da Praça Roosevelt), esse upgrade no elevado vai demorar para acontecer. Mas a ocupação do Minhocão não depende de burocracias oficiais. Em uma sociedade em que quase tudo se espera do governo, os garotos que dominam o Minhocão aos domingos estão fazendo política pública com os próprios pés.
Esse blog é um desperdício de espaço. Esse senhor, agraciado com a possibilidade de escrever sobre urbanismo num blog de grande visibilidade, se contenta em apresentar de forma simplista um assunto de conhecimento geral. Que outra informação esse texto me trouxe? Nenhuma! Ele cita problemas e só, não se dá ao trabalho de ao menos TENTAR criar uma discussão, apresentar diferentes pontos de vista. Não entendo porque a Folha acha que é preciso alguém com um currículo como o dele para escrever tanta baboseira na internet.
Você tem todo o direito de não ler o blog. Leia o Estadão, a Veja, por exemplo.
Leio a Folha justamente por buscar uma leitura melhor que algumas outras opções. Mas, honestamente, não vejo muita diferença entre a Veja e o texto anterior a esse, contestando o protecionismo de bairros como Pinheiros em relação ao mercado imobiliário. Ao que me parece, a Folha está se empenhando em atingir o mesmo público.
Só o fato de escrever sobre urbanismo já é algo a comemorar, não?
Qual a periodicidade dos posts? Está na hora de atualizar! 🙂
Seul também demoliu o elevado que tamponava o rio que corta a cidade. Fizeram um bonito projeto de integração do rio com a cidade e hoje as crianças brincam de molhar os pés na correnteza.
Seul tem 10 milhões de habitantes, algumas semelhanças e uma diferença fundamental em relação a São Paulo:
Diferença de mentalidade.
Aqui no gigante pela própria natureza os rios são vistos como um obstáculo à passagem dos automóveis e portanto, do ‘progresso’. E dá-lhe concreto, asfalto, canalizações mil e outras maneiras de esganá-lo até a morte.
Na minha modesta opinião, os históricos rios de São Paulo deveriam ser tombados. Uma cidade é um processo histórico e os rios são as únicas testemunhas vivas desse processo.
Seattle também está demolindo seu elevado.
O minhoção é uma maravilha, passar de carro no meio da sétima maior cidade do mundo não tem preço. Ainda mais sem farol e no elevado.
Usei e ainda uso o Minhoção, e quando passo de carro por lá me dá uma sensação de passar por uma obra de engenharia muito bem feita. Fácil, Ágil e rápido.
Se eu fosse prefeito de São Paulo construiria mais 3 níveis no Minhoção.
E essa de barulho por causa dos carros não cola não! Se fosse assim então a Marginal Tiete/Pinheiros teriam que ser demolidas também.
Oras bolas, deixem os prédios com gente trabalhando dentro que o barulho é muito maior do que o dos carros… Eu trabalho na Claro ao lado da Marginal e nem dá para escutar barulho de carro, pois o barulho interno do trabalho é muito maior.
Isso me cheira, Bolha imobiliária! Governo gastando até a última gota de dinheiro do contribuinte. Mais cedo ou mais cedo ainda… BUUUMMMMMM
Seu comentário me lembrou Prestes Maia.
Lá no final dos anos 30 a canadense Cia. City fez ao então prefeito a proposta de construir o metrô de São Paulo em troca da concessão das linhas. Caso tivesse aceitado, São Paulo já teria metrô a partir dos anos 50.
Porém, nacionalista ferrenho que era, Prestes Maia recusou a oferta afirmando que o futuro da cidade era o automóvel.
Chega a ser irônico como tinha razão.
Carlos,
Não foi a Cia City, inglesa, foi a LIGHT, que tinha na época também o monopólio do transporte por tração elétrica. Prestes Maia E os vereadores tinham medo dos canadenses. Azar de São Paulo…
Obrigado pela correção, João.
O lado bom do MINHOCÃO sempre existiu; todas as noites centenas de pessoas utilizam o espaço para fazer cooper ou caminhar. Infelizmente a polícia não faz nada, nem se quer coloca uma viatura patrulhando o elevado, o que aumenta a insegurança, não raro os esportistas são obrigados a dividir o espaço com craqueiros, traficantes e ladrões de fios de cobre. Uma viatura patrulhando a área resolveria o problema. Quanto aos “reiveiros” que resolveram tomar conta do espaço aos domingos, quando o elevado está fechado para o transito, seria bom que eles demonstrassem um pouco mais de respeito e cidadania; da última vez picharam completamente o elevado, escrevendo nas muretas e no chão, centenas de frases que emporcalharam o viaduto. Esse tipo de new frequentador não interessa, já que o elevado, desde o governo Erundina, se transformou aos domingos em áreas de lazer, de pessoas que sempre respeitaram o espaço e não procuram demonstrar jovialidade ou modernidade agindo como vandalos.
O minhocão deve ser demolido.
Mas não agora. Só depois que tivermos 200 km de linhas de metrô.
Como sempre vem aqueles com a idéia de jerico, de que demolir o minhocão, como se fez em outras grandes cidades seria a solução. Só daria certo se ouvesse um estudo que implementasse uma solução para o trânsito que por ali passa. Será que eles tem uma soluçãopara os milhares de carros que vem da zona norte, oeste etc.??? ou alguém vai ficar sacudindo uma varinha mágica para eles desaparecerem? Quanto às atividades sociais, acho que elas são bem-vindas sim, isto vai não só amenizar a mente dos que por ali vivem, como também elevar o nível cultural.
Entendo que não precisa demolir o Minhocão. Aliás, se demolir, para onde vai os milhares de carros que dele se utilizam todos os dias?? Vai ter que se criar uma outra via com custos enormes para os cofres públicos (de demolição e criação das novas vias para substituí-lo). Entendo que uma PPP pode resolver: Construtoras bancariam as desapropriações no entorno – criando uma faixa “non-edificandi” no entorno – e a reforma do combalido Minhocão em troca de contrapartidas para construírem em outros lugares. Penso que várias topariam a ideia.
Paquidérmico ou não, o Minhocão é uma das muitas marcas registradas desta cidade tão judiada, e pior, criticada em excesso. Tendo nascido e vivido nesta cidade por mais de 56 anos, me acostumei com ela, mais, aprendi a amá-la e brigar com sujeitos que insistem em detratá-la mas não arredam pé daqui, afinal, esta é a cidade das ilusões, da prosperidade sonhada, o lugar que todos querem deixar, desde que enriquecidos, claro.
Quanto à constatação do autor do artigo, nada a ver, o Minhocão não será menos ruim se frequentado por modernos, universitários e mauricinhos, pelo contrário, evidenciará essa mania que a pseuda ‘intelligentsia’ brazuca teima em ter. Deixem o Minhocão aos finais de semana para os moradores da ‘sofrida’ redondeza, os cultos e malacos já tem o baixo Augusta, a Roosevelt, e que tais.
Assim que se fala, xará.
Podemos amar São Paulo mas podemos também lutar por uma cidade mais humana. São Paulo pode melhorar muito e tem força para isso. A força da grana ainda vai humanizar esta generosa cidade.
“… aprendi a amá-la e brigar com sujeitos que insistem em detratá-la mas não arredam pé daqui”. Disse tudo, Carlos Andrade!
Uma pequena correção a ser feita na seguinte frase:
“É obra para estimular o transporte individual, não para corredores de ônibus, metrô ou bicicletas.”
Ao que me consta, bicicleta é transporte individual e não me parece muito confortável levar nela algum outro adulto além daquele que a conduz, cabendo no máximo duas crianças pequenas em cadeirinhas especiais.
Ah vá!!!!
não importa!!!! O importante mesmo é que tem inúmeras vantagens para qualidade de vida própria e a alheia
Raul, vc continua em forma, em Pequim, Buenos Aires, Baixo Augusta.
Sempre bom ler.
abs,
Ricardo Corrêa
Ao lado das marginais, o minhocão é talvez o maior emblema do que nunca deveria ter sido feito em São Paulo. Um erro urbano crasso. Resolveu alguma coisa? Não.
Mas o pai do mastodonte de concreto costumava rebater as críticas ao filho: ‘tire o minhocão de lá e você verá como ele é útil’.
Outro petardo disparado pelo ex-prefeito foi a crítica que ele fez ao alargamento da marginal Tietê na gestão José Serra: ‘ o talude de concreto na margem do rio deveria ser vertical, não inclinado. Assim poderia ser criada mais uma faixa para os automóveis’.
Opinião malufista não se discute, claro.
Paulo Maluf seria um excelente prefeito de uma cidade habitada apenas por carros, não por seres humanos.
Brasília?