Proibido tirar fotos
15/06/12 10:12Os seguranças do Conjunto Nacional, o prédio mais inteligente da Paulicéia, dizem ao turista desavisado que “é proibido tirar fotos” de seus fantásticos corredores, ignorando a abertura escancarada da arquitetura de David Libeskind.
O mesmo acontece com os seguranças no hotel Unique. Em tempos de celulares onipresentes e suas câmeras digitais ultrapotentes, está na hora de relaxarmos o “não pode” automático e canhestro. Imagina na Copa? Se não clicarem nossa arquitetura, os turistas fotografarão o quê em São Paulo? No Louvre, até a Monalisa pode ser clicada.
A autoestima paulistana é um tanto frágil, graças à feiura das construções que nos rodeiam. Mas algumas construções conseguem surpreender os mais viajados dos visitantes. Já levei diversos arquitetos estrangeiros, artistas e curadores para visitarem o Conjunto Nacional. A amplidão generosa de seus corredores, o piso da calçada é o mesmo piso das áreas internas, borrando as fronteiras do público e do privado.
O mix de escritórios e apartamentos e lojas no térreo criaram um raro quarteirão misto, vivo e frequentado de segunda à segunda, da manhã à noite. O contraste com os bancos da Paulista, que não tem uma única farmácia no térreo e que geram quadras ermas na mesma avenida, é exemplar. A entrada para as garagens nas ruas secundárias e as calçadas largas apontam para uma São Paulo mais possível.
A síndica Vilma Peramezza se tornou uma personalidade paulistana por administrar muito bem aquela cidadela entre a Augusta e a João Manuel, entre Paulista e alameda Santos. Mas o prédio poderia tentar se livrar dos aparelhos de ar condicionado que arruinam a sua fachada. Ainda assim, é um exemplo de obra que melhora a cidade.
O marketing dos “edifícios inteligentes” da Berrini e da Chucri Zaidan, que formam uma das áreas mais desoladas de São Paulo, não engana _ no máximo, formam uma sub-Dallas.
A história do Conjunto Nacional, erguido por um empresário argentino de origem húngara e que foi desenhado por David Libeskind, um arquiteto paranaense de apenas 26 anos de idade, deveria ser mais conhecida. Com muito otimismo, que inspire o mercado imobiliário paulistano. Segurança, deixa fotografar!
Foto: Skyscrapercity
frequentado com trema no texto? o trema caiu, sabe?
obrigado, Luciana, corrigido!
Como reflexão, podemos fazer uma comparação entre o Conjunto Nacional e os shoppings centers.
Enquanto o CN abre-se para a calçada tornando-se uma extensão dela, a arquitetura dos shoppings é voltada para dentro, desconectado da rua, da cidade. Tal como um presídio, segrega, exclui, prende as pessoas entre paredes e teto. Pior que os presídios, nem o sol entra ali. Um autêntico mausoléu.
Quem já experimentou a sensação de caminhar anônimo pelos calçadões do centro, entrar nas galerias e tomar um sorvete sob o céu enquanto observa um ipê amarelo sabe o que é isso.
A rua é bem melhor que os shoppings. Caminhar é melhor que dirigir.
Belo comentário!
Mais uma diferença de mentalidade entre Rio e São Paulo.
Enquanto esta esconde-se, aquela faz questão de aparecer sorrindente para o mundo. Não é sem motivo que os estrangeiros só falam do Rio ao referir-se ao Brasil.
Além de grandeza, São Paulo tem beleza sim. Mas vive escondida nas entranhas da cidade esperando ser descoberta.
Temos algo a aprender com os cariocas, não?
Proibição ridícula , tentei tirar fotos no Copan e também não deixaram .
Não é só no Conjunto Nacional, o brasileiro quando se sente investido de um pouco de autoridade tem a mania de proibir fotografias, com as desculpas mais esfarrapadas possíveis. Inclusive guardas de espaços públicos.