O desânimo contagiante dos candidatos a prefeito
03/08/12 12:51
Como reduzir o monumental déficit habitacional de São Paulo, onde milhões ainda moram em barracos, cortiços ou casas improvisadas?
Como transformar o transporte público, além do metrô (que é competência estadual), melhorando os corredores de ônibus, exigindo das empresas concessionárias melhores veículos e menos atrasos, além de mais ciclovias e melhores calçadas aos pedestres?
O que deveria mudar no zoneamento da cidade para permitir bairros mais multifuncionais, onde pessoas possam morar, trabalhar e se divertir em distâncias curtas, em vez de morarem a horas do local de trabalho, o que sufoca qualquer opção de transporte público?
Alvarás continuarão liberados para shoppings e para torres fechadas, sem utilização de térreos, a cumplicidade com um mercado imobiliário pouco criativo e sofisticado?
Como adensar o subutilizado Centrão de São Paulo, que, apesar de décadas de promessas, ainda é uma área vazia e desperdiçada à noite e nos finais de semana? O que fazer com o Parque Dom Pedro? E com as desoladas Marginais? E Cidade Tiradentes e a represa de Guarapiranga?
Teremos mais verde na cinzenta periferia da cidade? Como? Os CEUs melhoraram a educação de São Paulo? Seu programa será ampliado, reforçado, modificado?
Quem assistiu ao debate entre os candidatos a prefeito ontem, ficou sem ter um mínimo de esperança de que algo mude nos próximos quatro anos.
O debate de ontem foi das coisas mais desalentadoras que vi na TV em tempos. Além da maquiagem funérea e da voz nada entusiasmaste de todos os candidatos (ambos muito reveladores), sobraram platitudes sobre metrô e segurança (ambas competências estaduais) e um diz que diz de impostos. Se os prefeitos mal conseguem responder suas competências, para que ficar falando de áreas em que eles não têm verbas ou direitos para atuar?
O debate ainda mostrou o quanto a imprensa está despreparada para falar de cidades em geral. Coligações, os bastidores partidários, a briga de A com B, tudo que ocupa 95% do tempo dos políticos e menos de 1% da vida dos cidadãos, fazem muitos jornalistas salivar. E tome “nacionalização” do debate que deveria ser municipal.
Os partidos políticos realmente nacionalizam a eleição porque o único interesse deles é Brasília, daí as propostas raquíticas sobre a cidade. Mas que jornalistas caiam nessa armadilha, perguntando de mensalão e de rivalidades partidárias, que a maioria dos eleitores não tem o menor interesse, é um desperdício de oportunidade. Será que melhora até outubro?
(acima, a abertura do grande filme “São Paulo Sociedade Anônima”, de Luiz Sergio Person)
O fato é que a política é desalentadora.
O poder é o que importa. A cidade? que pegue fogo ou naufrague na próxima enxurrada. Ou torne-se refém de caminhoneiros, motoboys e outros sindicatos corporativistas.
Vai longe o tempo em que o prefeito era um planejador urbano. Só para dar uma ideia do atraso, o último que tivemos foi Prestes Maia com seu Plano de Avenidas radio-concêntrico.
Hoje quem atua em planejamento urbano é o metrô, uma companhia estadual. Entretanto o metrô constrói linhas sob uma cidade sem um desenho lógico, eficiente. A superfície, onde habitam os seres humanos permanece entregue ao caos.
1 – Mostrando aos mais iletrados que São Paulo é uma ilusão. Melhor recomeçar a vida dignamente em suas pequenas cidades de origem que levar uma vida de cão em São Paulo. Lá, pelo menos sobra espaço para construir. Em São Paulo, não. O meio ambiente agonizante é a prova disso.
2 – Substituindo os obsoletos, poluentes, trepidantes, desconfortáveis e barulhentos ônibus articulados pelos modernos VLTs. Por serem elétricos, permitem a automação do sistema, como o metrô. Além de, é lógico, construir mais corredores.
3 – Revogar a Lei de Proteção de Mananciais. Além de não proteger nada, a lei inviabiliza investimentos nas periferias norte e sul expulsando investidores e entregando essas preciosas áreas aos loteamentos predatórios. O resultado aí está: Billings poluída e a degradação subindo a serra da Cantareira.
3 – Vide item 2.
As áreas de proteção de mananciais poderiam virar bairros planejados para classes A, B, e C, não fosse essa lei inócua que acabou expulsando investidores. Por falta de espaço na capital, hoje eles investem para além do km 100 da rodovia Castelo Branco. E afinal, a que veio o tão aguardado Plano Diretor Estratégico?
4 – Essa questão precisa ser melhor esmiuçada. O centro é pouco adensado? Existem prédios enormes com centenas de kitinetes de 30 m², habitadas por três ou quatro pessoas. Habitação sub-humana é o nome dessas verdadeiras jaulas sem iluminação ou ventilação naturais. Por onde anda o Contru que não vê isso?
Já o parque Dom Pedro precisa merecer o nome de parque, retirando os automóveis e construindo vias subterrâneas nas margens do rio. E o rio precisa receber barcos para ser um rio de verdade, não um canal de engenharia.
O mesmo aplica-se às marginais. Precisamos criar um grande parque nas marginais Pinheiros e Tietê tornando os rios navegáveis e criando ali uma grande área de lazer capitaneada pelos clubes Espéria, Tietê, Portuguesa, Corinthians, Nacional e Pinheiros, além da USP. Os rios precisam ser devolvidos a quem pertencem: a população, não os automóveis. É por aí que podemos salvar essa cidade, começando pela sua certidão de nascimento.
Cidade Tiradentes?
Demolição pura e simples seguida de reconstrução. Mas pelo amor de Deus, vamos chamar os arquitetos para fazê-lo. Do jeito que é, CT é um símbolo de como não se deve fazer um bairro planejado. Aqueles conjunto de prédios rigorosamente iguais são a anti-arquitetura, um horror.
Represa de Guarapiranga e Billings:
transformação desses belíssimos lugares em áreas nobres da cidade. Clubes de remo e vela receberiam incentivo para instalarem-se nesses locais em troca da guarda e manutenção. Para quem não sabe, a vela é o esporte olímpico que mais trouxe medalhas para o Brasil.
5 – Precisamos criar a Lei Cidade Verde, no embalo do sucesso da lei cidade limpa. O poder público existe para isso.
Os CEUs precisam contemplar parcela maior da população, não apenas os bolsões de miséria onde estão inseridos. Caso contrário estaremos discriminando quem paga impostos para construí-los.
6 – Por fim, quem não assistiu ao debate não perdeu nada. Não houve nem nunca haverá debate objetivo pela TV. A razão é muito simples: os candidatos não tem plano de governo mas de poder.
Debate mesmo só aqui, entre os comentaristas de blog.
Não sejam conduzidos, conduzam.
um abraço.
Na mosca!