Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Raul Juste Lores

Cidades globais

Perfil Raul Juste Lores é correspondente da Folha em Nova York

Perfil completo

A culpa do eleitor no congestionamento de SP

Por Raul Juste Lores
04/06/12 00:29

 

Nem as pistas gigantes e expressas de Los Angeles evitam engarrafamentos (Reed Saxon/AP)

O eleitor paulistano tem grande responsabilidade pelos 295 km de congestionamento em São Paulo em uma 6a feira normal, sem feriadão e afins. Talvez nesta 4a feira pré-feriado, tenhamos repeteco do que aconteceu na última sexta-feira.

Prefeitos tucanos, petistas e peemedebistas/pessedistas deixam obras viárias para o último ano de gestão não só para agradar empreiteiras. Mas porque querem ganhar os votos de muitos eleitores que ainda acham essas obras necessárias. Asfalto rende voto.

Mas a bilionária ampliação das Marginais não iria reduzir o trânsito? Os túneis da Rebouças não desengarrafariam tudo? As grandes obras viárias de Maluf, de Minhocão às Marginais, não eram ‘progresso’? Políticas reacionárias como essas, assim como a de Lula-Dilma que reduz impostos para estimular ainda mais a venda de carros, não melhoram a mobilidade.

São Paulo precisa retirar carros das ruas, não colocar mais.  Abaixo, listo seis compromissos iniciais que eu valorizo em um candidato a prefeito que realmente queira mudanças no trânsito na cidade:

1. que faça mais e melhores corredores de ônibus, com melhores pontos e acessos e veículos mais modernos; que estude item por item o que atrapalha a velocidade dos ônibus. Enquanto forem tão vagarosos, será difícil convencer alguém a deixar o carro na garagem;

2. que penalize e restrinja a construção de edifícios residenciais com quatro vagas de garagem por apartamento. Quem quiser esse estilo de vida, que inviabiliza o trânsito na cidade, que pague a mais pelos seus carrinhos; o código de obras deve reduzir a exigência de estacionamentos;

3. que obrigue edifícios de escritórios acima de 10 andares a ter estabelecimentos comerciais no térreo. Torres que obrigam centenas de funcionários a pegar carro para ir numa farmácia ou a um restaurante, como tantas na Marginal, são insustentáveis;

4. que shoppings e hipermercados que incentivam um enorme deslocamento de pessoas por carro paguem por esse trânsito. Exigir que construam estações de metrô ou de ônibus, com todo o capricho e espaço necessários, antes de qualquer alvará;

5. que estimule o uso de bicicletas e ciclovias, e que facilite a vida do pedestre. Boa parte das viagens feitas na cidade são de menos de 1km. Se cada pessoa que vai comprar o pão a quatro quadras de casa pega o carro, jamais sairemos desse engarrafamento;

6. que saiba fomentar, de fato, a utilização das subutilizadas áreas centrais da cidade, que têm grande infraestrutura de transportes e dezenas de prédios vazios, tanto em usos residências como comerciais

Los Angeles, infinitamente mais rica que São Paulo, construiu centenas de quilômetros de vias expressas, viadutos, elevados e afins. Ainda assim, tem o pior trânsito nos EUA. Cada viaduto ou túnel apenas desloca o engarrafamento de um lugar para outro.

Não vejo nenhum dos atuais candidatos a prefeito com uma mentalidade século 21 em relação a carros. Tucanos e petistas não podem dar lições de moral nesse assunto. Mas enquanto premiarmos prefeitos que ficam recapeando ruas sem parar às vésperas de eleição, estaremos fomentando o grande congestionamento, ‘the big one’, que paralisará a cidade inteira.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Você adotaria um hidrante?

Por Raul Juste Lores
31/05/12 09:42

As tempestades de neve em Boston costumam soterrar as centenas de hidrantes espalhados pela cidade, complicando ainda mais o trabalho dos bombeiros durante uma emergência.

Um dos aplicativos mais interessantes que vi nos EUA, durante minha temporada de estudos pela bolsa da Eisenhower Fellowships, é o que permite a moradores de Boston a adotar um hidrante perto de casa. A prefeitura disponibilizou um mapa completo com a localização de todos os hidrantes da cidade. O morador clica, anuncia sua responsabilidade e pode até batizar o hidrante (alguns já ganharam nome, roupa e cor especiais, de acordo com a imaginação do patrocinador). O aplicativo ensina como usar a pá e outras dicas para retirar a neve em condições adversas.

A tecnologia disponível em celulares e tablets dá a oportunidade ao cidadão interessado de fazer a sua parte no cuidado do espaço público _ e tira um peso enorme do poder público, onde recursos não andam sobrando.

Como todos os aplicativos da Code for America seguem a filosofia do Creative Commons (compartilhamento aberto, fontes abertas), outras prefeituras podem ‘copiar’ e adaptar para as suas realidades. Seattle, onde chove muito, está substituindo o hidrante pelos bueiros (não são poucos os vizinhos com todo o interesse de evitar inundações na porta de casa, assim como de ter hidrantes ‘à mão’). Buenos Aires já procurou a organização para fazer a versão portenha do aplicativo. E São Paulo, o Rio, as grandes cidades brasileiras têm algum projeto parecido a caminho?

Seria mais que didático ter um aplicativo que destacasse que praças paulistanas são oficialmente adotadas por empresas, quais ainda estão órfãs de patrocínio privado – e onde moradores pudessem dar sugestões ou até denunciar descuidos e abandonos.

No post anterior do blog, aqui, conto mais sobre a ong por trás desses aplicativos ‘cidadãos’ e de outros recursos tecnológicos que podem melhorar as cidades. Ao toque do celular. Para quem quiser saber mais, a grande palestra no TED da criadora da Code for America abaixo (finalmente consegui colar o video aqui, estou aprendendo…)


YouTube Direkt

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Empurrão tecnológico nas prefeituras

Por Raul Juste Lores
29/05/12 02:02


Imagine um aplicativo que permita ao cidadão avisar à prefeitura, com um simples toque no celular, quando um semáforo estiver desregulado ou quando uma árvore cair perto de casa. Ou um aplicativo que mostre as melhores rotas e linhas de metrô e de ônibus mais convenientes para qualquer trajeto que você digitar. Com o GPS, o aplicativo mostra os melhores caminhos a partir do local onde você está.

Várias cidades americanas estão em uma corrida para inventar o aplicativo perfeito, que diminua a distância entre cidadãos e prefeituras. Em tempos de smartphones e redes sociais, os velhos “disques-denúncia”, que demoram longos minutos para registrar um problema ou uma solicitação e levam semanas para dar uma simples resposta, são tão anacrônicos quanto o telex ou a máquina de escrever.

A ong Code for America, de San Francisco, vai além. Ela patrocina bolsas anuais para desenvolvedores de aplicativos passarem um ano inventando apps para prefeituras parceiras do projeto. Vários figurões do Vale do Silício, como Mark Zuckerberg, aparecem no vídeo acima convocando potenciais candidatos, muitos deles jovens que trabalham em empresas como Google e Microsoft.

Não é surpresa que a maioria das prefeituras não tem pessoal especializado, nem verbas necessárias para reduzir o gap tecnológico. E que esses jovens desenvolvedores são muito cobiçados (leia-se altos salários) pelo mercado. A ong diminui essa distância. A prefeitura paga um percentual irrisório do que esse serviço custaria no mundo real e permite que esses jovens mergulhem em uma boa causa, o que não fará mal a seus currículos.

Em pouco tempo, a Code for America já inventou diversos aplicativos. Um calcula o potencial energético dos painéis solares em qualquer edifício. Outro ajuda pais preocupados a monitorarem por onde anda a perua escolar dos filhos (aqui, nos EUA, aquele ônibus amarelo).

Um aplicativo para a prefeitura de Seattle, CityGroups, permite aos usuários encontrar ou recomendar grupos cívicos e ongs que estejam desenvolvendo um bom trabalho comunitário. O CouncilMatic, de Filadélfia, permite aos cidadãos acompanhar em tempo real aonde andam os projetos em discussão nas Câmaras Municipais (nossos vereadores mereceriam algo assim).

Tem outro que permite a criação e o compartilhamento de novos ícones para a sinalização pública, com placas potenciais indicando que prédios possuem jardins no topo, aonde encontrar comida orgânica ou a mais próxima ciclovia.

Para que esses aplicativos funcionem, prefeituras e governos em geral precisam se organizar e abrir suas bases de dados _ de endereços e andamento de alvarás a horários e percursos das linhas de ônibus. Essas informações precisam ser facilmente lidas por máquinas (arquivos em pdf não servem). Em ano de eleições municipais no país, seria bom perguntarmos como anda essa corrida tecnológica no Brasil. A bolsa Eisenhower Fellowships me levou à sede da Code for America _ e eles têm todo interesse em compartilhar seus aplicativos com outros países.

Sugiro enfaticamente ao leitor que clique no link abaixo e assista ao vídeo com a palestra no seminário TED da fundadora da Code for America, Jennifer Pahlka (embaixo do vídeo, você pode escolher em “Subtitles available in” legendas em português):

http://www.ted.com/talks/lang/en/jennifer_pahlka_coding_a_better_government.html

É fácil ser cínico e falar que estamos a anos-luz dessa realidade, quando nossos semáforos nem conseguem sobreviver intactos a um temporal. Só que mais rápido que imaginamos milhões e milhões de brasileiros terão um smartphone na mão e uma crescente consciência do que é ser cidadão e pagador de impostos. A tecnologia tem o poder de reduzir a apatia cidadã e de dar eficiência a vários governos. Não dá para ficar de fora.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

A bicicleta que acumula fôlego para o ciclista

Por Raul Juste Lores
26/05/12 11:22


Na semana em que São Paulo cria seu sistema de aluguel/compartilhamento de bicicletas, vale conhecer este projeto desenvolvido pelo laboratório de “cidades sensíveis” do MIT. Chamada de Copenhagen, ela tem uma roda que acumula a energia produzida enquanto o ciclista pedala _ essa energia pode ser acionada naqueles momentos em que você precisa de um empurrãozinho ou precisa descansar um pouco.

Um aplicativo permite que você também saiba a qualidade do ar que você respira, os trajetos que você pode utilizar e permite que os dados da sua pedalada sejam monitorados. Guiando, no futuro, políticas públicas nos principais corredores de ciclistas.

Graças à bolsa Eisenhower, pude conhecer a bicicleta no MIT. Ainda é um tanto pesadona, mas um de seus criadores, o professor Assaf Biderman, me garantiiu que uma nova versão muito mais leve, deve ficar pronta ainda este ano. Como celulares, televisores e câmeras, algo menor e mais eficiente está a caminho.

Apesar de meses e meses de frio polar por ano, a capital dinamarquesa, reino das magrelas, demonstra que a ideia de que “tal cidade não é adequada para bicicletas” precisa ser revista. As íngremes e cheias de ladeiras San Francisco e Bogotá e a tumultuada e congestionada Nova York também desafiam aqueles que acham que toda viagem precisa ser feita dentro de um carro.

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Expertise brasileira nos ônibus da China

Por Raul Juste Lores
17/05/12 10:17


Engenheiros brasileiros dão consultoria e assistência técnica a belos sistemas de corredores de ônibus na China, como esse cima, em Guangzhou (a antiga Cantão, terceira maior cidade do país). O sistema é integrado a metrô e ciclovia.

Veja o tamanho do ponto, a possibilidade do ônibus ultrapassar sem problema, como se paga a passagem antes do embarque, o que reduz o tempo parado. Quando eu morava na China, entrevistei Paulo Sergio Custódio, pai de vários sistemas parecidos no país.

No Brasil, infelizmente, poucas cidades depois da pioneira Curitiba souberam fazer direito (se o fazem). Em São Paulo, a gestão Kassab esqueceu o assunto – praticamente oito anos sem expandir a rede. A gestão Marta, que fez vários quilômetros e melhorou muitos (como o da Nove de Julho), acabou tropeçando justamente no da Rebouças, que enfrentava oposição dos moradores.  Com obstáculos à ultrapassagem, enfileirando ônibus e reduzindo a velocidade deles, e pontos minúsculos, onde embarque e desembarque se arrastam, quase vira propaganda anticorredor. Pena (para nós) que muitos de nossos especialistas consigam mais trabalho na China que em casa.

P.S.: o belo vídeo acima foi feito pela StreetFilms, braço da esperta ong americana Open Plans, que decidiu fazer bons vídeos para a geração Youtube __ e assim promover boas práticas urbanas. Para mudar comportamentos, várias ferramentas são necessárias. Grandes ideias também precisam ser virais.

P.S. 2: Minha entrevista com Custodio, do arquivo da Folha: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2306200822.htm

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

O nosso Minhocão na TV americana

Por Raul Juste Lores
15/05/12 09:28


Quem diria que o Minhocão viraria cenário para uma propaganda que passa a todo instante na TV americana? E, acredito, também um pedacinho da Serra do Mar. Há muito o efeito cenográfico do nosso Centrão é usado pela publicidade brasileira, que acha ali mais beleza que nos bairros ditos chiques da Zona Oeste. Mas que o Minhocão fosse conquistar o mundo, já é uma surpresa. Será que está na hora de transformá-lo no High Line paulistano? Abaixo, a antiga ferrovia suspensa de Nova York que virou um parque.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Um empreendimento multifuncional no Texas

Por Raul Juste Lores
13/05/12 10:17


Um empreendimento imobiliário em San Antonio, no Texas, mostra que algo está mudando na terra dos subúrbios, das casas distantes do centro, onde tudo só pode ser feito de carro e o único ponto de encontro é o shopping center.

Ao redor de uma antiga cervejaria do final do século 19, a Pearl Brewery, surge um novo bairro “multifuncional”, a palavra mais usada quando se fala de moradia sustentável, onde muita coisa pode ser feita a pé, e casa, trabalho e entretenimento são razoavelmente vizinhos (como antigamente).

Até o final do ano estarão prontos 300 apartamentos e espaço para 120 escritórios. A antiga sede da cervejaria Pearl vai virar um hotel-butique até 2014 e o antigo estábulo (as cervejas eram transportadas por carroças!) virou centro de convenções.

No novo ‘bairro’, de 110 mil m2, já funcionam alguns restaurantes e lojas (detalhe: o empreendedor só aceitou negócios dirigidos pelos próprios donos, não quis franquias ou cadeias que deixassem o bairro com cara genérica), além das sedes locais da Asociação dos Arquitetos dos EUA e da Architecture Foundation. Uma filial da escola The Culinary Institute of America acaba de ser aberta ali para formar futuros chefs.

Para confirmar que o projeto quer ser diferente da típica cidade texana, cheia de utilitários 4×4 e carrões que emitem meia Arábia Saudita de carbono, o primeiro ponto de compartilhamento de bicicletas de San Antonio foi instalado na entrada do condomínio.

A empreendedora, Silver Ventures, bancou a construção de uma grande praça com anfiteatro para mil pessoas e de um calçadão junto ao rio vizinho para criar um espaço público a ser usado por moradores e visitantes, sem muros ou grades. Uma vez por mês, o festival “Échale” promove shows de música latina ao ar livre, além de eventos gastronômicos (veja o vídeo abaixo).

“Os clientes são majoritariamente baby boomers (a geração nascida principalmente nos anos 50, após a Segunda Guerra) e os nascidos nos anos 90. Tanto os mais velhos, que já não têm mais os filhos na espaçosa casa no subúrbio, quanto os mais jovens, que querem ficar perto do agito e preferem andar de bicicleta, buscam um novo estilo de vida”, me disse Elizabeth Fauerso, uma das diretoras do projeto.

Ou seja, não se trata de filantropia – construtores mais antenados apenas estão percebendo as tendências e as demandas dos novos e nem tão novos públicos, e precisam satisfazê-los. Mas não há nada parecido no Brasil, mesmo em tempos de boom  imobiliário do Oiapoque ao Chuí.

Nossos grandes empreendimentos são completamente desconectados do espaço público. Mesmo quando há exigências legais de se construir uma praça ou um jardim públicos, milagrosamente eles não saem do papel. Mas, como a maioria de nossos empreendedores vem aos EUA para se inspirar, especialmente nos nomes das novas construções, talvez ainda reste uma mínima esperança.


vimeo Direkt

 

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

A Virada pode fazer mais pelo Centro

Por Raul Juste Lores
05/05/12 02:36


Atualização do post abaixo: em qualquer sábado paulistano, haverá tiros e brigas, atropelamentos e tumultos, com ou sem Virada Cultural. Que o evento leve centenas de milhares às ruas e que transcorra em normalidade na maior parte do tempo, é prova de sucesso.

Governos poderiam aproveitar essas oportunidades para ampliar nossas noções básicas de convivência e de respeito ao espaço público, tema de post recente no blog:  https://rauljustelores.blogfolha.uol.com.br/2012/04/26/propaganda-para-quem-precisa/  Mais Viradas são necessárias, ainda estamos engatinhado nessa reconquista de ruas e praças.

*

A Virada Cultural virou a maior celebração do espaço público do calendário de São Paulo. Derrotou um tabu duradouro — de que seria impossível levar milhares e milhares de pessoas à noite, de diversas classes sociais, ao desolado centrão de São Paulo em pleno final de semana.

Apesar da curadoria mais afiada nos últimos anos, que evitou que o evento se tornasse uma réplica do Reveillon da Paulista (onde as atrações musicais parecem saídas do Domingão do Faustão), a maratona cultural bem que poderia ser mais ousada ao tratar seu palco principal, o Centro de São Paulo.

Em vez de ser apenas cenário das dezenas de atrações musicais e palcos instalados, e passagem para os milhares que zanzam de um lado para o outro, o Centro poderia ser personagem e atração do evento.

Imaginem o que Daniela Thomas, Gringo Cardia, Maneco Quinderé, Isay Weinfeld, Bia Lessa, Muti Randolph, os artistas da Galeria Vermelho e e da Choque Cultural e dezenas de talentosos cenógrafos, arquitetos e iluminadores não poderiam fazer com a “cara” do Centro?

Imaginem osgemeos e dezenas de outros talentosos grafiteiros intervindo nas empenas cegas, aqueles paredões vazios nas laterais dos prédios, descobertos a partir do Cidade Limpa? Um colorido inesperado à cinza metrópole poderia ir surgindo durante a Virada.

Recentemente, um evento do Centro Cultural Banco do Brasil promoveu projeções que coloriram o Palacio Matarazzo, sede da Prefeitura. As dezenas de participantes ficaram embasbacados com o resultado. Para elevar a autoestima paulistana, precisamos contemplar nossas belezas, fora da correria diária.

O Centro tem dezenas de jóias arquitetônicas pouco conhecidas dos próprios paulistanos. Várias, inclusive, implorando por uma restauração. Imagine alpinistas escalando o Martinelli? Luzes e instalações transformando as fachadas do Eiffel, do Califórnia e do Triângulo, prédios do Niemeyer? Visitação, com direito a guia, claro, do fantástico salão da Secretaria de Esportes e da Juventude de São Paulo, talvez o melhor art déco de São Paulo? Que ótimo seria ver o esquecido Palácio dos Correios (foto no fim do post) com algum tipo de intervenção na fachada, já que sua transformação em centro cultural pelo governo federal empacou.

Várias ‘viradinhas’ poderiam ser feitas ao longo do ano, sem a necessidade das dezenas de palcos. As belas galerias dos anos 50 da Vinte e Quatro de Maio, Barão de Itapetininga e Sete de Abril poderiam ficar abertas à noite e receber DJs e shows mais intimistas, de artistas ainda não tão conhecidos. Como nas “noites dos museus” de Buenos Aires e Berlim, os centros culturais do centrão (são dezenas) poderiam ficar abertos uma ou duas vezes por ano, com programação coruja.

A Prefeitura bem que podia convencer as dezenas de bares e restaurantes no Centro que ainda mantêm as portas fechadas em pleno acontecimento. No ano passado, lembro das filas quilométricas nos poucos botecos abertos. Não seria o máximo jantar no Almanara, no Guanabara, no Jacob, no Dona Onça e afins em plena madrugada, entre um show e outro?

Boa parte dos paulistanos que passa a noite de sábado em um shopping center o faz por falta de opção melhor e mais acessível ao bolso. Até a iluminação natalina da Paulista provou que o paulistano, tendo um programinha ao ar livre e gratuito, diz presente. A melhor maneira de promover coesão social e recuperar o espaço público é levar o cidadão de volta para a praça.

Nem as infinitas e recorrentes campanhas de ‘revitalização’ conseguiram recuperar a marca do Centro como lugar para se morar ou bater perna no fim de semana. Um sábado e domingo à tarde na região ainda são melancólicos. A música na Virada pode ser ótima, mas a festa das multidões ainda pode fazer mais pelo seu berço.

(Paris, que nem precisa de muito esforço para ficar linda, aproveita a sua Virada para mudar o visual por 24 horas. A Nuit Blanche, uma das pioneiras Viradas Culturais do mundo, apronta muito com prédios históricos e se tornou veículo para que artistas reinventem construções tradicionais parisienses, como podemos ver no vídeo acima. Ainda poderemos fazer o mesmo)

O esquecido Palacio dos Correios, no Anhangabaú

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Microsoft e Boeing se adaptam aos novos tempos

Por Raul Juste Lores
04/05/12 18:30

 

A Microsoft se orgulha de seu gigantesco campus, dezenas de edifícios espalhados em um subúrbio da Grande Seattle. Os jardins são perfeitos, a arquitetura é “verde e sustentável”, mas o estacionamento tem cinco andares e capacidade para 35 mil carros, o mesmo número de funcionários do complexo…

Desconfie desses complexos empresariais distantes das cidades que trombeteiam sua sustentabilidade. Não há nada sustentável em obrigar milhares de funcionários dirigirem milhares de carros por 1 hora (ou mais) todo santo dia. E sem a chance de metrô, ônibus ou bicicleta por perto.

Felizmente, a Microsoft usa há alguns anos um serviço chamado Connector, que oferece vários ônibus que saem de Seattle e arredores a cada 10 minutos para levar os funcionários ao campus. Mais de 6 mil funcionários já usam os ônibus da empresa fundada por Bill Gates e essa é uma boa notícia. O Google também tem uma rede de ônibus para seus funcionários.

Já a Boeing, tambem na periferia de Seattle, acaba de adquirir um grande imóvel no centro de Seattle. “Centenas de visitantes e clientes se hospedavam na cidade e tinham que fazer essas viagens de duas horas por dia até a sede da fábrica. No Centro, vamos ganhar em tempo e praticidade”, me disse um diretor da empresa.

Algo está mudando nas corporações americanas. A Ideo, grande agência de marketing e de “design thinking” da California, abriu uma filial em um antigo armazém no Embarcadero, zona portuária de San Francisco (foto acima). Além da praticidade, seus diretores me contaram que fica mais fácil para contratar talentos na cidade do que em Palo Alto, principal sede da empresa, a mais de uma hora dali. “Os mais jovens preferem morar no coração da cidade, não em Palo Alto ou nos subúrbios”.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

A metamorfose da casa e do escritório

Por Raul Juste Lores
02/05/12 11:31


YouTube DirektChangingPlaces/MIT

Nossa vida mudou muito na última década. Acordamos já trabalhando, checando emails, respondendo mensagens pelo celular, conversando com os colegas ainda de pijama. Mas, no trabalho, interagimos com amigos, atualizamos nossa vida no Facebook, no Twitter ou Orkut, e nos divertimos com vídeos no Youtube. Os limites entre casa e trabalho estão cada vez mais difusos _ e não são poucos que podem desenvolver boa parte das tarefas profissionais a partir da residência ou sentados em algum café.

Que estranho que nossa casa e, principalmente, nossos locais de trabalho ainda tenham mudado tão pouco. Fisicamente, centenas de milhares de metros quadrados ainda ficam vazios boa parte do dia (e, infelizmente, com luzes acesas noite adentro), quando os funcionários estão mais móveis que nunca. A quantidade de gente que não para mais na mesinha de sempre – e das salas que vivem vazias – é enorme.

Um laboratório do MIT, universidade americana em Cambridge, Massachussets, reconhecida por chegar antes no futuro, quer adivinhar como serão esses territórios híbridos de casa e trabalho, usando a tecnologia cada vez mais acessível _ e tendo em mente que espaço será cada vez mais escasso e caro nas grandes cidades.

Graças à bolsa da fundação Eisenhower Fellowships, pude conhecer o professor Kent Larson, visionário de alguns dos projetos mais avançados e ambiciosos do Changing Places, nome oficial do centro de pesquisas.

Os vídeos podem até ter certa cara de Jetsons, mas é bom se preparar para as novas ondas que virão. Empresas e construtoras que quiserem sobreviver ao futuro já estudam o impacto dessa nova vida fluida no presente.


YouTube DirektCityCar/MIT

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailrjlores@uol.com.br
  • Twitter@rauljustelores

Buscar

Busca

Tags

aplicativos apps arquitetura avenida paulista bicicletas bikes bueiros calçadas Centro ciclovias cidadania Code for America congestionamentos conjunto nacional construção sustentável eleições Facebook foto gestão urbana Google habitação social hidrantes High Line higienopolis Marginais mercado imobiliário Microsoft; Boeing; subúrbio; Palo Alto; transporte público Minhocão MIT; futuro: casa; escritório; Kent Larson Nova York pedestres prefeito prefeituras publicidade publicidade; enchentes; Estados Unidos; campanha revitalização San Antonio segurança shopping tecnologia Texas trânsito urbanismo Vila Madalena Virada Cultural; revitalização do Centro; grafite; artistas; osgemeos;
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).