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Raul Juste Lores

Cidades globais

Perfil Raul Juste Lores é correspondente da Folha em Nova York

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Propaganda para quem precisa

Por Raul Juste Lores
26/04/12 19:33


“Se São Paulo fosse a sua mãe, você atiraria lixo nela?”. Troque São Paulo pelo Texas, e é basicamente isso o que pergunta a campanha acima, uma das mais premiadas nos EUA, patrocinada pelo governo do Texas.

“Não mexa com o Texas” nasceu para reduzir a quantidade de lixo atirada pelos motoristas nas estradas do Texas. Cada ano, ganha um novo vídeo ou cartaz. Várias celebridades texanas, como Matthew McCounaghey, Willie Nelson e Lance Armstrong, estrelaram gratuitamente os vídeos.

O sucesso foi tanto que a pequena agência de Austin responsável pela Don’t mess with Texas já faz campanhas por todo país contra o desperdício de água, por hábitos mais saudáveis e pela reciclagem de lixo.

“Nos Estados Unidos, boa parte das campanhas institucionais, apesar das boas intenções, são chatas, não conseguem tocar o público alvo. Quisemos que nossas campanhas fossem tão espertas quanto às corporativas, de grandes empresas”, me disse Valerie Davis, fundadora e sócia da agência EnviroMedia.

“Para uma campanha cívica funcionar, precisamos de muita, mas muita pesquisa”, continua Davis. “Identificamos quem é que joga mais lixo pela janela do carro, a idade, seus valores, com o que se importa, o que não lhe diz respeito. As pesquisas se repetem para acompanharmos mudanças no comportamento da população. Nosso primeiro alvo, a população masculina entre 16 e 30 anos, que come fast-food e leva delivery no carro, foi muito estudada”. Davis estará na Rio+20 e tomara que contagie governos com suas ideias.

 

Em São Paulo, onde enchentes periódicas são maximizadas pelo acúmulo de lixo que entope os bueiros, jamais vi uma campanha parecida. Neste ano, com eleições municipais, seremos bombardeados com campanhas dizendo “construímos x casas populares” (o número sempre pode ser chutado) ou “asfaltamos x kms de ruas”. Campanha eleitoral mascarada de prestação de contas, mas sempre retroativa, de algo já feito, nunca de algo que poderia mudar ou ser transformado.

Com a quantidade de publicitários iluminados que o Brasil possui, é um desperdício de ideias e verbas que não tentemos ensinar o respeito ao espaço público com tanto orçamento para propaganda. Temas não faltariam. Campanhas contra o vandalismo do mobiliário urbano, para estimular a leitura, a ida ao teatro, as atividades físicas. E como no cartaz acima, sobre os ‘maus hábitos’ da garota loira, que não se gaste água à toa com mangueira. Construir cidadania requer educação, mas não usamos uma das mais poderosas ferramentas para isso.


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O lado bom do Minhocão

Por Raul Juste Lores
17/04/12 17:16

Nos últimos domingos, o Minhocão tem se transformado em uma sucursal elevada do Baixo Augusta. Modernos, universitários e até alguns mauricinhos estão compartilhando o espaço antes usado quase exclusivamente pelos moradores da sofrida redondeza.

O parque de concreto dominical, usado há anos pelos vizinhos, hoje promove uma mistura de classes em uma cidade aonde os mais abastados costumam pagar muito para não se misturar. No Minhocão, é diferente. Em vez do shopping center, a rua; no lugar do ingresso caro em ambiente fechado, a atividade cultural democratizada e financiada coletivamente, convocada pela internet. Ela é prima direta da ocupação da Praça Roosevelt, da revitalização da rua Augusta e até mesmo da Virada Cultural.

Depois do chamado Festival Baixo Centro, surgem outros encontros, atividades e até maratona para tirar fotos e postar no Instagram. Virou programa paulistano.

Melhor ainda, ela perverte um dos maiores símbolos da prioridade dada ao carro sobre todas as coisas que imperou em São Paulo por várias décadas. Cria do malufismo, o Minhocão rasgou bairros e condenou milhares de moradores ao barulho e à fumaça em suas janelas, em plena sala de visitas. Houve uma fuga da região e os prédios vizinhos passaram por abandono, o que acelerou a crise do Centro. O trânsito, é claro, não melhorou: viadutos como esse apenas deslocam o congestionamento de um lado para o outro. É obra para estimular o transporte individual, não para corredores de ônibus, metrô ou bicicletas.

Tivesse São Paulo uma liderança mais ambiciosa, a demolição do Minhocão já teria acontecido (como em Seul, Boston, Madri, que derrubaram seus elevados). Tanto Seul quanto Madri, que priorizaram o transporte público, colocaram parques no lugar dos elevados. Mas quem acredita que isso possa acontecer em São Paulo em 10 ou 20 anos?

Para não fetichizarmos o Minhocão (não, ele não é um ‘parque’ de verdade, nem uma versão paulistana do High Line nova-iorquino), ele precisa ser adaptado. Viadutos como ele em Xangai ou Pequim têm grandes painéis de proteção lateral para reduzir os efeitos sonoros nos prédios vizinhos; alguns já são cobertos por trepadeiras, o cinza sendo substituído pelo verde. A parte de baixo precisa ganhar novos usos e especialmente melhor iluminação. Vários prédios da região, verdadeira habitação popular, imploram por um retrofit. Belos edifícios projetados por Rino Levi e Artacho Jurado se desmancham de cara ao viaduto.

Mas, como em qualquer programa governamental (veja a paquidérmica reforma da Praça Roosevelt), esse upgrade no elevado vai demorar para acontecer. Mas a ocupação do Minhocão não depende de burocracias oficiais. Em uma sociedade em que quase tudo se espera do governo, os garotos que dominam o Minhocão aos domingos estão fazendo política pública com os próprios pés.


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Os privilegiados da Vila Madalena

Por Raul Juste Lores
12/04/12 13:03

Imagine se Pinheiros e Vila Madalena ficassem igualzinhos ao Pacaembu ou ao Jardim Europa –enclaves de casas, onde não se pode construir mais, em áreas centrais ricas em infraestrutura pública?

É o que parecem querer alguns ativistas abnegados desses bairros, que andam lutando contra “a especulação imobiliária” e por uma cidade ‘mais verde’.

Em uma São Paulo de apática mobilização política, a iniciativa desperta simpatia. Mas proibir a verticalização em áreas centrais no momento onde finalmente nossa nova classe C quer e pode comprar seu primeiro apartamento, é uma maldade pouco ecológica. Ou crescemos para cima ou continuaremos crescendo para os lados.

Se todos tiverem direito à sua casa com quintal e jardim, a cidade vai se espalhando –as distâncias aumentam e o uso do carro como transporte se impõe. Se tivermos uma cidade densa (imagine Nova York, a zona sul do Rio, Higienopolis, a avenida Paulista ou mesmo Buenos Aires), as distâncias se encurtam e a densidade facilita a construção de transporte público.

Os protegidos Pacaembu e os Jardim Europa e America ocupam áreas centrais com ótima infraestrutura, mas servem a muito poucos. As torres de apartamentos para a nova classe média vão sendo erguidas em bairros mais longínquos, onde o transporte está longe de ser bom e distantes de boa parte dos empregos disponíveis na metrópole –garantia de congestionamentos futuros.

Quando você dificulta a construção, o m² encarece –é a lei da oferta e da demanda.

Nos últimos 200 anos, cada progresso nos meios de transporte foi sucedido por uma “fuga das elites” das áreas centrais para algum com lugar com mais espaço e sossego, como escreveu o economista Edward Glaeser em seu fundamental “O triunfo da cidade” (The Triumph of the City). Azar delas se querem ficar mais tempo dentro de um carro. Nossos bairros mais servidos por metrô, ônibus, luz e água precisam de mais moradores, não menos.

O mercado imobiliário paulistano justifica o temor dos moradores de Pinheiros e Vila Madalena, que não querem edifícios com arquitetura chinfrim e muros altíssimos, que matam qualquer vida ou luz nas calçadas. Para criarmos uma cidade mais inclusiva, que permita nossa nova classe média morar em regiões mais centrais, precisamos discutir as regras do que se pode ou nao construir e do como construir. Nosso código de obras é obsoleto e a discussão arquitetônica-urbanística deve se impor. Mas congelar não resolve –o que adianta manter uma árvore no quintal, mas forçar milhares de novos carros emitindo mais carbono?

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