Os privilegiados da Vila Madalena
12/04/12 13:03Imagine se Pinheiros e Vila Madalena ficassem igualzinhos ao Pacaembu ou ao Jardim Europa –enclaves de casas, onde não se pode construir mais, em áreas centrais ricas em infraestrutura pública?
É o que parecem querer alguns ativistas abnegados desses bairros, que andam lutando contra “a especulação imobiliária” e por uma cidade ‘mais verde’.
Em uma São Paulo de apática mobilização política, a iniciativa desperta simpatia. Mas proibir a verticalização em áreas centrais no momento onde finalmente nossa nova classe C quer e pode comprar seu primeiro apartamento, é uma maldade pouco ecológica. Ou crescemos para cima ou continuaremos crescendo para os lados.
Se todos tiverem direito à sua casa com quintal e jardim, a cidade vai se espalhando –as distâncias aumentam e o uso do carro como transporte se impõe. Se tivermos uma cidade densa (imagine Nova York, a zona sul do Rio, Higienopolis, a avenida Paulista ou mesmo Buenos Aires), as distâncias se encurtam e a densidade facilita a construção de transporte público.
Os protegidos Pacaembu e os Jardim Europa e America ocupam áreas centrais com ótima infraestrutura, mas servem a muito poucos. As torres de apartamentos para a nova classe média vão sendo erguidas em bairros mais longínquos, onde o transporte está longe de ser bom e distantes de boa parte dos empregos disponíveis na metrópole –garantia de congestionamentos futuros.
Quando você dificulta a construção, o m² encarece –é a lei da oferta e da demanda.
Nos últimos 200 anos, cada progresso nos meios de transporte foi sucedido por uma “fuga das elites” das áreas centrais para algum com lugar com mais espaço e sossego, como escreveu o economista Edward Glaeser em seu fundamental “O triunfo da cidade” (The Triumph of the City). Azar delas se querem ficar mais tempo dentro de um carro. Nossos bairros mais servidos por metrô, ônibus, luz e água precisam de mais moradores, não menos.
O mercado imobiliário paulistano justifica o temor dos moradores de Pinheiros e Vila Madalena, que não querem edifícios com arquitetura chinfrim e muros altíssimos, que matam qualquer vida ou luz nas calçadas. Para criarmos uma cidade mais inclusiva, que permita nossa nova classe média morar em regiões mais centrais, precisamos discutir as regras do que se pode ou nao construir e do como construir. Nosso código de obras é obsoleto e a discussão arquitetônica-urbanística deve se impor. Mas congelar não resolve –o que adianta manter uma árvore no quintal, mas forçar milhares de novos carros emitindo mais carbono?