A Virada pode fazer mais pelo Centro
05/05/12 02:36
Atualização do post abaixo: em qualquer sábado paulistano, haverá tiros e brigas, atropelamentos e tumultos, com ou sem Virada Cultural. Que o evento leve centenas de milhares às ruas e que transcorra em normalidade na maior parte do tempo, é prova de sucesso.
Governos poderiam aproveitar essas oportunidades para ampliar nossas noções básicas de convivência e de respeito ao espaço público, tema de post recente no blog: https://rauljustelores.blogfolha.uol.com.br/2012/04/26/propaganda-para-quem-precisa/ Mais Viradas são necessárias, ainda estamos engatinhado nessa reconquista de ruas e praças.
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A Virada Cultural virou a maior celebração do espaço público do calendário de São Paulo. Derrotou um tabu duradouro — de que seria impossível levar milhares e milhares de pessoas à noite, de diversas classes sociais, ao desolado centrão de São Paulo em pleno final de semana.
Apesar da curadoria mais afiada nos últimos anos, que evitou que o evento se tornasse uma réplica do Reveillon da Paulista (onde as atrações musicais parecem saídas do Domingão do Faustão), a maratona cultural bem que poderia ser mais ousada ao tratar seu palco principal, o Centro de São Paulo.
Em vez de ser apenas cenário das dezenas de atrações musicais e palcos instalados, e passagem para os milhares que zanzam de um lado para o outro, o Centro poderia ser personagem e atração do evento.
Imaginem o que Daniela Thomas, Gringo Cardia, Maneco Quinderé, Isay Weinfeld, Bia Lessa, Muti Randolph, os artistas da Galeria Vermelho e e da Choque Cultural e dezenas de talentosos cenógrafos, arquitetos e iluminadores não poderiam fazer com a “cara” do Centro?
Imaginem osgemeos e dezenas de outros talentosos grafiteiros intervindo nas empenas cegas, aqueles paredões vazios nas laterais dos prédios, descobertos a partir do Cidade Limpa? Um colorido inesperado à cinza metrópole poderia ir surgindo durante a Virada.
Recentemente, um evento do Centro Cultural Banco do Brasil promoveu projeções que coloriram o Palacio Matarazzo, sede da Prefeitura. As dezenas de participantes ficaram embasbacados com o resultado. Para elevar a autoestima paulistana, precisamos contemplar nossas belezas, fora da correria diária.
O Centro tem dezenas de jóias arquitetônicas pouco conhecidas dos próprios paulistanos. Várias, inclusive, implorando por uma restauração. Imagine alpinistas escalando o Martinelli? Luzes e instalações transformando as fachadas do Eiffel, do Califórnia e do Triângulo, prédios do Niemeyer? Visitação, com direito a guia, claro, do fantástico salão da Secretaria de Esportes e da Juventude de São Paulo, talvez o melhor art déco de São Paulo? Que ótimo seria ver o esquecido Palácio dos Correios (foto no fim do post) com algum tipo de intervenção na fachada, já que sua transformação em centro cultural pelo governo federal empacou.
Várias ‘viradinhas’ poderiam ser feitas ao longo do ano, sem a necessidade das dezenas de palcos. As belas galerias dos anos 50 da Vinte e Quatro de Maio, Barão de Itapetininga e Sete de Abril poderiam ficar abertas à noite e receber DJs e shows mais intimistas, de artistas ainda não tão conhecidos. Como nas “noites dos museus” de Buenos Aires e Berlim, os centros culturais do centrão (são dezenas) poderiam ficar abertos uma ou duas vezes por ano, com programação coruja.
A Prefeitura bem que podia convencer as dezenas de bares e restaurantes no Centro que ainda mantêm as portas fechadas em pleno acontecimento. No ano passado, lembro das filas quilométricas nos poucos botecos abertos. Não seria o máximo jantar no Almanara, no Guanabara, no Jacob, no Dona Onça e afins em plena madrugada, entre um show e outro?
Boa parte dos paulistanos que passa a noite de sábado em um shopping center o faz por falta de opção melhor e mais acessível ao bolso. Até a iluminação natalina da Paulista provou que o paulistano, tendo um programinha ao ar livre e gratuito, diz presente. A melhor maneira de promover coesão social e recuperar o espaço público é levar o cidadão de volta para a praça.
Nem as infinitas e recorrentes campanhas de ‘revitalização’ conseguiram recuperar a marca do Centro como lugar para se morar ou bater perna no fim de semana. Um sábado e domingo à tarde na região ainda são melancólicos. A música na Virada pode ser ótima, mas a festa das multidões ainda pode fazer mais pelo seu berço.
(Paris, que nem precisa de muito esforço para ficar linda, aproveita a sua Virada para mudar o visual por 24 horas. A Nuit Blanche, uma das pioneiras Viradas Culturais do mundo, apronta muito com prédios históricos e se tornou veículo para que artistas reinventem construções tradicionais parisienses, como podemos ver no vídeo acima. Ainda poderemos fazer o mesmo)
O esquecido Palacio dos Correios, no Anhangabaú